O escopo da prevenção mudou ao longo do tempo. Em 1967, Clark D.W. (apud STARFIELD,
2008) afirmava que prevenção em um senso estrito significa evitar o desenvolvimento de um
estado patológico e, em um senso amplo, inclui todas as medidas, entre elas as terapias
definitivas, que limitam a progressão da doença em qualquer um dos estágios. Uma distinção
foi feita entre a intervenção que impede a ocorrência da doença antes de seu aparecimento –
prevenção primária – da intervenção que diagnostica precocemente, detém ou retarda a sua
progressão ou suas sequelas em qualquer momento da identificação – prevenção secundária
(LEAVELL; CLARK, 1976; STARFIELD, 2008). Pode-se então definir que prevenção é todo ato que
tem impacto na redução de mortalidade e morbidade das pessoas.
Tanto assim que, nos países desenvolvidos, o foco dos cuidados clínicos mudou da cura para a
prevenção, ou seja, antecipar doenças futuras em indivíduos que se encontram saudáveis
tornou-se prioridade sobre o tratamento (GERVAS, 2008).
1.2 Níveis de prevenção Na década de 70, foram estabelecidos, por Leavell & Clark (1976), três
níveis de prevenção que inter-relacionam atividade médica e saúde pública. Nesse esquema, a
promoção da saúde era concebida apenas como um elemento da prevenção primária e voltada
mais para os aspectos educativos individuais. No entanto, a partir da década de 80, após a
Carta de Otawa, a promoção da saúde foi revalorizada, tornando-se objeto de políticas públicas
em várias partes do mundo. Diferentemente da promoção da saúde, a prevenção de
enfermidades tem como objetivo a redução do risco de se adquirir uma doença específica por
reduzir a probabilidade de que uma doença ou desordem venha a afetar um indivíduo
(CZERESNIA, 2003). a) Prevenção primária é a ação tomada para remover causas e fatores de
risco de um problema de saúde individual ou populacional antes do desenvolvimento de uma
condição clínica. Inclui promoção da saúde e proteção específica (ex.: imunização, orientação
de atividade física para diminuir chance de desenvolvimento de obesidade). b) Prevenção
secundária é a ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio inicial, muitas
vezes em estágio subclínico, no indivíduo ou na população, facilitando o diagnóstico definitivo,
o tratamento e reduzindo ou prevenindo sua disseminação e os efeitos de longo prazo (ex.:
rastreamento, diagnóstico precoce). c) Prevenção terciária é a ação implementada para reduzir
em um indivíduo ou população os prejuízos funcionais consequentes de um problema agudo
ou crônico, incluindo reabilitação (ex.: prevenir complicações do diabetes, reabilitar paciente
pós-infarto – IAM ou acidente vascular cerebral).
Prevenção quaternária, de acordo com o dicionário da WONCA3 é a detecção de indivíduos
em risco de intervenções, diagnósticas e/ou terapêuticas, excessivas para protegê-los de novas
intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis. A
prevenção de doenças compreende três categorias: manutenção de baixo risco, redução de
risco e detecção precoce. a) Manutenção de baixo risco tem por objetivo assegurar que as
pessoas de baixo risco para problemas de saúde permaneçam com essa condição e encontrem
meios de evitar doenças. b) Redução de risco foca nas características que implicam risco de
moderado a alto, entre os indivíduos ou segmentos da população, e busca maneiras de
controlar ou diminuir a prevalência da doença. c) Detecção precoce visa estimular a
conscientização dos sinais precoces de problemas de saúde – tanto entre usuários leigos como
em profissionais – e rastrear pessoas sob risco de modo a detectar um problema de saúde em
sua fase inicial, se essa identificação precoce traz mais benefícios que prejuízos aos indivíduos.
Ela baseia-se na premissa de que algumas doenças têm maiores chances de cura, sobrevida
e/ou qualidade de vida do indivíduo quando diagnosticadas o mais cedo possível. Alguns tipos
de câncer, as doenças cardiovasculares, o diabetes e a osteoporose são alguns exemplos.
Estratégias para a detecção precoce são o diagnóstico precoce e o rastreamento. A primeira diz
respeito à abordagem de indivíduos que já apresentam sinais e/ou sintomas de uma doença,
enquanto a segunda é uma ação dirigida à população assintomática, na fase subclínica do
problema em questão. c.1) Diagnóstico precoce são ações destinadas a identificar a doença em
estágio inicial a partir de sintomas e/ou sinais clínicos. Na área oncológica, o diagnóstico
precoce é uma estratégia que possibilita terapias mais simples e efetivas, ao contribuir para a
redução do estágio de apresentação do câncer. Por essa razão, o conceito de diagnóstico
precoce é por vezes nomeado de down-staging, ou seja, no menor estágio do desenvolvimento
da doença (WHO, 2007, p. 3). c.2) Rastreamento é a realização de testes ou exames
diagnósticos em populações ou pessoas assintomáticas, com a finalidade de diagnóstico
precoce (prevenção secundária) ou deidentificação e controle de riscos, tendo como objetivo
final reduzir a morbidade e mortalidade da doença, agravo ou risco rastreado (GATES, 2001). O
rastreamento viabiliza a identificação de indivíduos que têm a doença, mas que ainda não
apresentam sintomas. Por vezes, confunde-se a questão do rastreamento com a simples
adoção de protocolos ou guidelines, recomendações de associações médicas ou outras
instituições respeitadas sobre condutas profissionais. Essa ideia está mais próxima do
rastreamento oportunístico, que, por sua vez, pode trazer mais problemas para os pacientes do
que alívio do sofrimento. O rastreamento não está isento de riscos, pois significa interferir na
vida de pessoas assintomáticas, ou seja, que até provem o contrário são saudáveis. No próximo
capítulo, o rastreamento é abordado mais densamente.
Detecção precoce de câncer Na área oncológica, o diagnóstico precoce é uma estratégia que
possibilita terapias mais simples e efetivas, ao contribuir para a redução do estágio de
apresentação do câncer. Por essa razão, o conceito de diagnóstico precoce é por vezes
nomeado de down-staging (WHO, 2007, p. 3). É importante que a população em geral e os
profissionais de saúde reconheçam os sinais de alerta dos cânceres mais comuns passíveis de
melhor prognóstico se descobertos no início. O Quadro 9.1 apresenta síntese dos principais
sinais e sintomas de alguns dos mais prevalentes.
A detecção precoce pode salvar vidas, reduzir a morbidade associada ao curso da doença e
diminuir custos do sistema de saúde relacionados ao tratamento das doenças. Ela deve ser
estruturada na atenção à saúde, com a definição clara de suas estratégias e a efetiva
incorporação de seus princípios técnicos e operacionais pelos profissionais de saúde.
Fonte: CADERNO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA ( MINISTÉRIO DA SAÚDE) 2013
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